A divindade de Cristo - 1º Parte

Se por um lado à natureza humana de Cristo é importante para a Cristologia, por outro lado, sua natureza divina é de vital importância para qualquer estudante da vida do Senhor. Tal conhecimento é necessário para todo o cristão, uma vez que é dever de todo discípulo de Jesus possuir a capacidade de defender a sua fé quando questionado por incrédulos acerca “da esperança que há em vós” (1 Pe 3.13), e também para diferenciarmos a pessoa de Jesus da pessoa de tantos outros líderes religiosos que passaram pela história da humanidade.
Ao longo dos séculos, incontáveis heresias têm se levantado para apresentar um Jesus diferente do encontrado nas Sagradas Escrituras.Dessa forma, torna-se de suma importância para a defesa da genuína fé cristã, não só o conhecimento acerca da natureza humana de Cristo, mas também o conhecimento acerca de sua natureza divina.

O novo testamento possui inúmeros textos que declaram de forma direta ou indireta a questão da divindade absoluta de Cristo (em divindade absoluta queremos dizer que enquanto esteve vivendo na terra, Jesus era inteiramente homem e inteiramente Deus), dessa maneira, verificaremos tais evidências de várias formas.

I. Sua divindade é declarada pelos títulos atribuídos a Ele

i. Ele é chamado pela palavra Deus (theos)

A via de regra a palavra grega theos (Deus) é utilizada para referir-se a Deus Pai, no entanto, vemos em pelo menos sete passagens do novo testamento em que tal palavra é empregada para referir-se a Jesus Cristo. Tais passagens são:
João 1.1: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”
Jo 1.18: “Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou”.
Jo 20.27- 28: ‘E logo disse a Tomé: Põe aqui o dedo e vê as minhas mãos; chega também a mão e põe-na no meu lado; não sejas incrédulo, mas crente. 28 Respondeu-lhe Tomé: Senhor meu e Deus meu!”’
Rm 9.5: “deles são os patriarcas, e também deles descende o Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito para todo o sempre. Amém!”
Tt 2.13-14: “aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus, o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniqüidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras”.
Hb 1.8: “mas acerca do Filho: O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre; e: Cetro de eqüidade é o cetro do seu reino”.
2 Pe 1.1: “Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, aos que conosco obtiveram fé igualmente preciosa na justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo”


ii. Ele é chamado pela palavra Senhor (Kyrios)

A palavra grega kyrios, traduzida por senhor, pode ser empregada de várias formas: 1.usada como um tratamento respeitoso dispensado a um superior (Mt 13.27; 21.30;21.30; 27.63; Jo 4.11); 2.para significar patrão (Mt 6.24; 21.40). No entanto, tal palavra é usada na Septuaginta (tradução grega do AT, muito difundida na época de Cristo) como uma tradução do hebraico YHWH (Javé ou Jeová), sendo freqüentemente traduzido por “Senhor” ou Jeová. Por ser usada 6.814 vezes para referir-se ao nome de Deus no AT, esta palavra torna-se um dos principais títulos referentes a Jeová, e assim, em contextos apropriados, qualquer judeu do primeiro século reconheceria que a palavra “Senhor” referia-se ao nome do Criador e do Mantenedor dos céus e da Terra, o Eterno Deus Jeová.

A palavra Senhor é usada inúmeras vezes para referir-se a pessoa de Jesus, como por exemplo, vemos a saudação de Isabel (que estava grávida de João Batista) ao receber a visita de Maria, meses antes do nascimento de Jesus: “Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre! E de onde me provém que me venha visitar a mãe do meu Senhor?” (Lc 1.42-43); vemos também esta palavra ser empregada a pessoa de Jesus na ocasião do anuncio do seu nascimento pela voz do anjo de Deus aos pastores que estavam em Belém:“E um anjo do Senhor desceu aonde eles estavam, e a glória do Senhor brilhou ao redor deles; e ficaram tomados de grande temor. O anjo, porém, lhes disse: Não temais; eis aqui vos trago boa-nova de grande alegria, que o será para todo o povo: é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor” (Lc 2.9-11) e também vemos o emprego desta palavra, na narração de Mateus acerca da missão de João Batista, como precursor de Jesus Cristo: “Naqueles dias, apareceu João Batista pregando no deserto da Judéia e dizia: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus. Porque este é o referido por intermédio do profeta Isaías: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas” (Mt 1.1-3).

Para ratificar nossos argumentos acima mencionados, podemos citar o fato de que Paulo, talvez um dos principais apóstolos de toda a história da Igreja, emprega esta palavra (Senhor, Kyrios) para referir a Jesus Cristo em várias passagens de suas 13 cartas, como podemos ver nas seguintes passagens: “Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Rm 10.9); “Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor” (1 Co 1.9); “todavia, para nós há um só Deus, o Pai, de quem são todas as coisas e para quem existimos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós também, por ele” (1 Co 8.6); “Por isso, vos faço compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus afirma: Anátema, Jesus! Por outro lado, ninguém pode dizer: Senhor Jesus, senão pelo Espírito Santo” (1 Co 12.3).

Vemos de forma mais clara o emprego da palavra Kyrios (Senhor), no livro de Hebreus, em que o autor ao citar o Sl 102 que trata da obra de Deus na criação e a aplica a Jesus: “Ainda: No princípio, Senhor, lançaste os fundamentos da terra, e os céus são obra das tuas mãos; eles perecerão; tu, porém, permaneces; sim, todos eles envelhecerão qual veste; também, qual manto, os enrolarás, e, como vestes, serão igualmente mudados; tu, porém, és o mesmo, e os teus anos jamais terão fim”(Hb 1.10-12).

Mas talvez a mais importante ocorrência do emprego da palavra Senhor a pessoa de Cristo, ocorre através da boca do próprio Senhor Jesus, que citando o Sl 110.1, Eles questiona os fariseus dizendo: “Reunidos os fariseus, interrogou-os Jesus: Que pensais vós do Cristo? De quem é filho? Responderam-lhe eles: De Davi. Replicou-lhes Jesus: Como, pois, Davi, pelo Espírito, chama-lhe Senhor, dizendo: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés? Se Davi, pois, lhe chama Senhor, como é ele seu filho? E ninguém lhe podia responder palavra, nem ousou alguém, a partir daquele dia, fazer-lhe perguntas” (Mt 22.41-46).

Para corroborar nosso argumento sobre a divindade de Cristo revelada através do emprego da palavra Kyrios (Senhor) à pessoa de Jesus, encontra no livro de Apocalipse, onde após o retorno de Jesus à Terra como Rei vencedor, onde vemos a seguinte declaração:
“Vi o céu aberto, e eis um cavalo branco. O seu cavaleiro se chama Fiel e Verdadeiro e julga e peleja com justiça. Os seus olhos são chama de fogo; na sua cabeça, há muitos diademas; tem um nome escrito que ninguém conhece, senão ele mesmo. Está vestido com um manto tinto de sangue, e o seu nome se chama o Verbo de Deus; e seguiam-no os exércitos que há no céu, montando cavalos brancos, com vestiduras de linho finíssimo, branco e puro. Sai da sua boca uma espada afiada, para com ela ferir as nações; e ele mesmo as regerá com cetro de ferro e, pessoalmente, pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus Todo-Poderoso. Tem no seu manto e na sua coxa um nome inscrito: REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES” (Ap 19.11-16).



iii. Ele é chamado de Filho de Deus

De todos os nomes atribuídos à pessoa de Jesus, talvez este título seja o que revela com maior precisão a verdade acerca da natureza divina de Cristo, e o seu verdadeiro significado. É bem verdade que este titulo possa as vezes ser simplesmente empregado para referir-se a Israel (Mt 2.15), ao homem criado por Deus (Lc 2.38) ou ao homem regenerado (Rm 8.14, 19,23), mas no entanto, existe casos em que este nome se refere a Jesus, como sendo o Filho celestial eterno igual ao próprio Deus (Mt 11.25,30; 17.5;1 Co 15.28; Hb 1.1-3,5,8). Mas é no evangelho de João que esta idéia e melhor desenvolvida, nos revelando que Jesus é o filho singular do Pai (Jo 1.14,18,34,49), que nos revela plenamente o Pai (Jo 8.19; 14.9), que também nos possibilita a vida eterna (Jo 3.16; 5.20-22,25; 10.17; 16.15) e como Filho, Ele já existia antes da fundação do mundo (Jo 3.37; 5.23; 10.36).

Continua......


Por missº Felipe

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