A humanidade de Cristo - 1º Parte

O primeiro aspecto a ser analisado em relação a Cristologia, ou doutrina de Cristo, se refere à sua humanidade. Para isso, é de suma importârcia abordamos os diversos aspectos referentes a essa questão: a concepção virginal de Jesus.

  1. Sua concepção virginal

Vemos claramente em dois dos quatro evangelhos (Mateus e Lucas), ao contrário dos demais seres humanos, que são concebidos através da união sexual entre um homem e uma mulher, a concepção de Jesus foi uma ação miraculosa do Espírito Santo, que fez com que Jesus fosse gerado no ventre de uma mulher que ainda não havia mantido relações sexuais com o seu futuro marido, sendo, portanto virgem.

A bíblia é taxativa em relação ao nascimento virginal de Jesus, como podemos ver em dois dos quatro evangelhos, assim diz o evangelho de Mateus acerca do nascimento de Jesus: “Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Estando Maria, sua mãe, desposada com José, antes de se ajuntarem, achou-se ter concebido do Espírito Santo. Então José, seu marido, como era justo, e a não queria infamar, intentou deixá-la secretamente. E, projetando ele isto, eis que em sonho lhe apareceu um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber a Maria, tua mulher, porque o que nela está gerado é do Espírito Santo; E dará à luz um filho e chamarás o seu nome Jesus; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados. Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que foi dito da parte do Senhor, pelo profeta, que diz;Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, E chama-lo-ão pelo nome de Emanuel, Que traduzido é: Deus conosco. E José, despertando do sono, fez como o anjo do Senhor lhe ordenara, e recebeu a sua mulher;E não a conheceu até que deu à luz seu filho, o primogênito; e pôs-lhe por nome Jesus” (Mt 1.18-25); o evangelho de Lucas oferece maiores detalhes acerca do nascimento de Jesus, nos informando que: “E, no sexto mês, foi o anjo Gabriel enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, A uma virgem desposada com um homem, cujo nome era José, da casa de Davi; e o nome da virgem era Maria. E, entrando o anjo aonde ela estava, disse: Salve, agraciada; o Senhor é contigo; bendita és tu entre as mulheres. E, vendo-o ela, turbou-se muito com aquelas palavras, e considerava que saudação seria esta. Disse-lhe, então, o anjo: Maria, não temas, porque achaste graça diante de Deus. E eis que em teu ventre conceberás e darás à luz um filho, e por-lhe-ás o nome de Jesus. Este será grande, e será chamado filho do Altíssimo; e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai; E reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim. E disse Maria ao anjo: Como se fará isto, visto que não conheço homem algum? E, respondendo o anjo, disse-lhe: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; por isso também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus. E eis que também Isabel, tua prima, concebeu um filho em sua velhice; e é este o sexto mês para aquela que era chamada estéril; Porque para Deus nada é impossível.

Disse então Maria: Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra. E o anjo ausentou-se dela.” (Lc 1.26-38)
A concepção virginal de Jesus é vital para a Cristologia, por quatro fatores:


I. Qualifica Jesus como o único salvador da humanidade
Cerca de setecentos anos antes, o profeta Isaías declarou: “Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel.” (Isaias 7.14)

Dessa forma, a concepção de Jesus em uma virgem por ação do Espírito Santo como registrada em Mateus e Lucas, além de cumprir a profecia de Isaias, atesta a alegação cristã de que Jesus de Nazaré, é o messias tão aguardado por Israel, serve também para embasar a afirmativa de Jesus: ”Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.” ( Jo 14.6)

II. Comprova a salvação como obra exclusiva do Senhor
A primeira promessa registrada nas Escrituras encontra-se logo no início de Gn 3.14, logo após a queda de Adão, Deus promete à toda a humanidade, que o salvador viria da semente da mulher, ele esmagaria a cabeça, enquanto que a serpente lhe feriria o calcanhar.

Ao afirmarmos que a concepção virginal de Jesus, queremos afirmar que a salvação é obra exclusiva do Senhor, queremos dizer, que a salvação poderia ser efetuada somente pela intervenção direta de Deus, na história da humanidade, como podemos ver no evangelho de João:“Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”( Jo 3.16), bem como na carta aos Gálatas: “4 vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, 5 para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos.”(Gl 4.4-5)

III. Possibilitou a plena humanidade de Cristo sem a herança do pecado
Após a criação do universo, dos céus e da terra bem como os animais e plantas, o Senhor decide fazer uma criatura totalmente diferente das demais por Ele já criadas, tal criatura seria feita à sua imagem e semelhança (Gn 1.26), ou seja, esta criatura seria portadora de alguns dos atributos encontrados apenas na divindade, atributos estes tais como: amor, sabedoria e santidade e livre arbítrio, no entanto, tais atributos seriam encontrados nessa criatura de uma forma limitada, pois apenas Deus os possui em sua plenitude.

Através do barro, o Senhor cria o homem, e sopra em suas narinas o fôlego de vida, tornando-lhe alma vivente (Gn 2.7), dando-lhe total liberdade e autoridade sobre o jardim do Éden, com uma única restrição: foi vedado ao homem o direito de se alimentar da árvore do conhecimento do bem e do mal (Gn 1.26-31; 2.15-17).

A serpente, que era o animal mais astuto de todos os animais do campo (Gn 3.1), sendo possuída pelo diabo, persuadiu a mulher a comer da árvore do conhecimento, argumentando que ao contrário do que Deus havia dito, o resultado de se comer daquele fruto não seria a morte, mas sim lhe daria a capacidade de se igualar a Deus. Seduzida pela oferta, “e vendo que a árvore era boa aos olhos, agradável para se comer, e desejável para dar entendimento, Eva sucumbiu ao argumento da serpente e provou do fruto da árvore do conhecimento, repartindo daquele fruto com o seu marido Adão. Após terem provado daquele fruto, reconheceram que estavam nus, cozendo folhas de figueira para cobrir-se” (Gn 3.6-7).

Ao ouvirem a voz do Senhor em sua visita diária pelo Éden, tanto Adão quanto a mulher tentaram se esconder atrás das árvores do Jardim. Mas quando o Senhor, chamou por Adão, ele saiu por detrás das árvores confessando o seu pecado, no entanto, ao tentar explicar o porquê de sua desobediência, ele tenta colocar a culpa em sua mulher.Questionada pelo Senhor o porquê de sua atitude, a mulher tenta se esquivar de sua responsabilidade, tentando imputar a culpa à serpente pela sua desobediência.

O ato de comer do fruto da árvore do conhecimento , revela-se em si um pecado contra Deus, pelos seguintes fatos: 1) Ao dar atenção aos argumentos da serpente, Eva e depois Adão duvidaram da veracidade da palavra de Deus, questionando assim um dos atributos divinos, a santidade; 2) Ao dar atenção aos argumentos da serpente, Eva e depois Adão confiaram em sua própria avaliação acerca daquilo que era certo ou errado, colocando assim em dúvida outros dos principais atributos de Deus, a sua moral; e 3) Ao dar atenção aos argumentos da serpente, Eva e depois Adão desejaram se tornar iguais a Deus, colocando em dúvida outro dos principais atributos de Deus, sua soberania.

Após ouvir as defesas do homem e da mulher, o Senhor declara o castigo para os três:

Para Eva – para a mulher o Senhor declara o seguinte juízo: “16 E à mulher disse: Multiplicarei grandemente a tua dor, e a tua conceição; com dor darás à luz filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará.” (Gn 3.16)

Para Adão – para o homem o Senhor declara o seguinte juízo: “17 E a Adão disse: Porquanto deste ouvidos à voz de tua mulher, e comeste da árvore de que te ordenei, dizendo: Não comerás dela, maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida. 18 Espinhos, e cardos também, te produzirá; e comerás a erva do campo. 19 No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás.” (Gn 3.17-19)

Para a serpente – para a serpente, o Senhor declara o seguinte juízo: “14 Então o SENHOR Deus disse à serpente: Porquanto fizeste isto, maldita serás mais que toda a fera, e mais que todos os animais do campo; sobre o teu ventre andarás, e pó comerás todos os dias da tua vida.” (Gn 3.14)

Logo após declarar sua sentença ao pecado da serpente, o Senhor declara a primeira das inúmeras promessas contidas na Bíblia Sagrada, e a primeira promessa foi feita exatamente ao principal agente causador da queda de Adão e Eva: Satanás.Ao diabo, o Senhor faz a seguinte declaração: “15 E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.” (Gn 3.15)

Assim, a concepção virginal de Jesus é de fundamental importância para o cristianismo, uma vez que ela declara, ainda que indiretamente, que a salvação é uma obra exclusiva de Deus, uma vez que a partir do pecado de Adão, a natureza humana foi corrompida, inclinando o homem à pratica do pecado e levando-o gradativamente a afastar-se mais e mais da comunhão com o seu Criador, como podemos ver em romanos: “pois todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm 3.23).Além de subjugar o homem ao domínio do pecado (Rm 6.20; 7.20), o surgimento de uma natureza pecaminosa no homem, afetou todos os aspectos de sua vida, tais como: seu intelecto (2 Co 4.4); mente reprovável (Rm 1.28); incapacidade de conhecer a Deus (Ef 4.18) e suas corrupção de suas emoções (Rm 1.21,24,26; Tt 1.15).

Assim, a concepção virginal de Jesus, resulta na parcial interrupção da descendência de Adão e a conseqüente transmissão de sua natureza corrupta, possibilitou o surgimento de um homem que não tivesse sido contaminado com o pecado permitindo-lhe a faculdade de não cometer pecado (2 Co 5.21; 1 Pe 2.22), permitindo a Jesus, através de uma vida de obediência à vontade de Deus (Hb 5.8), oferecer a si mesmo como único sacrifício capaz de aplacar a ira de Deus (Hb 10.12).

IV. Possibilitou a plena união entre a natureza humana e divina de Cristo
Como vimos anteriormente, Deus tem se revelado à humanidade de diversas maneiras, mas a forma mais completa pela qual o Senhor pode se revelar à humanidade, uma forma através da qual toda a humanidade pudesse conhecer a essência do caráter do criador de todas as coisas.

Para isso, e para também restabelecer sua comunhão perdida com a humanidade na ocasião do pecado de Adão no Éden, Deus enviou seu Filho Unigênito, que é “o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder” (Hb 1.3). No entanto, para que o Filho (que é igualmente divino como o Pai), pudesse revelar a Deus e resgatar a humanidade da condenação pelo pecado, era-lhe necessário se revestir de uma natureza humana, sem contudo perder sua natureza divina, era necessário que Ele viesse ao mundo de uma forma natural e ao mesmo tempo de uma forma sobrenatural, ou seja, era necessário que o Salvador nascesse através do ventre de uma mulher, mas ao contrário do restante da humanidade, Ele deveria nascer livre da natureza corrompida do ser humano.Assim, para atender a essas condições, a concepção virginal de Jesus, possibilitou ao Filho Unigênito de Deus, unir sua natureza humana, com a natureza divina, viabilizando a reconciliação entre Deus e à humanidade.

Continua.....

Missº Felipe Dias

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